A busca do 5 Finisher Spartathlon: Parte 1

24/03/2022 2 Por ultragusmao

Enquanto a jornada se inicia vamos relembrar a minha 1a. participação no Caminho de Pheidippides…

 

Vamos voltar ao mês de janeiro de 2014, estávamos no hotel às vésperas da BR135, quando Fábio Rodrigo Machado e Marcelo França começaram a me contar sobre a Spartathlon, uma Ultramaratona de 246km em que atleta tem 36horas para completar, e a janela de inscrição abria naquele dia. Não sabia nada sobre a prova, mas os dois me falavam com tanta empolgação sobre este grande desafio, que resolvi me inscrever juntamente como os dois. Utilizamos o computador do saguão do hotel e tudo foi feito muito rapidamente

Depois disso precisei aguardar mais algum tempo. No início do mês de março saiu a lista dos aceitos e o meu não estava na lista, fui parar na 34º posição da lista de espera. Fiquei despontado, pois já estava me imaginando correndo na Spartathlon, meus amigos Fábio e Marcelo estavam dentro e eu fora.

Sempre mantinha contato com o Fabio e ele me falava: Gusmão segue treinando você vai ser chamado, a lista de espera vai andar e você vai entrar, não acreditava muito nele, mas sempre dizia que estava treinando e lançamos um desafio entre nós de tentarmos fechar a prova abaixo das 30horas. Na minha cabeça isso era impossível, só completar a Spartathlon já seria uma grande vitória, mas o Fábio vinha de grandes conquistas na ultramaratona e queria me manter motivado.

O tempo foi passando e em junho fui chamado para compor o Time Brasil na Spartathlon, que naquele momento já contava com: Fábio Machado, Cláudia Souto, Ariovaldo Branco, Marcelo França, Zilma Rodrigues e agora comigo também.

Faltavam 3 meses e eu teria que passar a levar os treinos mais a sério e então comecei a me organizar melhor, estudar mais a prova e treinar!!!

O mês de setembro chegou e a adrenalina estava nas alturas, me sentia preparado e confiante para encarar os 246km entre as cidades de Atenas e Sparta. Quando chegamos em Atenas fiquei deslumbrado com tudo que eu via, a beleza do lugar, as pessoas, os atletas de elite e eu ali no meio dos grandes, todos só falavam uma coisa: cuidado com a Montanha!

Dia 26 de Setembro estávamos todos alinhados, aos pés da Acrópole, para a largada. Estava ainda escuro e aos primeiros raios de sol começou a contagem regressiva e em poucos segundos já estava a caminho de Sparta.

Foi uma corrida onde não passei por grandes problemas, até os primeiros 42km segui num ritmo confortável me mantendo no meio de um bloco de atletas e arriscando algumas palavras em inglês, mesmo sem saber o idioma;  dava risadas comigo mesmo, pois os atletas me respondiam e eu não entendia nada.

Após a Maratona o sol já estava forte e a alta temperatura começou a castigar bastante o corpo, pensava: vou administrar até o km 84 para fazer uma pequena pausa, almoçar e fazer uma massagem. Logo após o km 60 comecei a dar umas pequenas caminhadas já que minha frequência cardíaca estava subindo e queria mantê-la sobre controle.

Cheguei ao km 84, fiz uma pausa para comer um macarrão, fazer massagem, trocar de blusa e seguir rumo a metade da prova. O fim de tarde se aproximava, como é lindo o anoitecer a caminho das Montanhas Gregas, o céu laranja me inspirava, estava correndo e feliz por estar próximo à metade da prova e me sentindo muito bem.

Cheguei à Nemea, no km 123, a metade da prova. Mais uma vez, fiz uma massagem para soltar as pernas, não estava com pressa já que o tempo estava controlado. Havia colocado algumas horas de vantagem para o corte e podia me dar esse luxo. Tendo sido a liberação muscular feita era hora de partir para a tão temida montanha.

No km 147, a base da Montanha, peguei meu casaco, gorro e bora subir. Fiz uma subida com cautela, pois realmente é uma parede bem íngreme e exige bastante força dos atletas. Fui vencendo a cada passo, até chegar ao topo e como o vento sopra forte lá em cima. Não perdi muito tempo, desci logo… e que descida longa e em zig-zague cheia de pedras soltas. Acabei me empolgando e fiz uma descida um pouco mais forte do que gostaria e, por isso, comecei a sentir dores na coxa após o km 169 e então passei a trotar e caminhar, fazendo a contagem dos kms restantes de CP em CP.

Ao amanhecer o sol voltou a dar o seu recado e a temperatura começou a subir novamente. Eram 8 horas da manhã e o sol já estava forte. Eu tinha acabado de passar pelo km 200, e pensei uffa…falta um pouco mais de uma Maratona. Estava sofrendo, mas feliz e agradecendo por estar bem animado e com forças para seguir aos pés do Rei Leônidas. Pensava no meu amigo Fábio e falava comigo mesmo já se passaram 26 horas, o Fábio já deve estar descendo rumo a Sparta e eu ainda tenho um bom trecho até o final.

Fui contemplando as lindas paisagens, vivendo e curtindo cada km até a chegada do km 226 quando cheguei no CP onde a partir dali são 20km de descida até a cidade de Sparta. Pensei: para baixo todo santo ajuda, mas não foi bem assim, a longa descida maltratou as minhas pernas, eu sentia o impacto nas minhas coxas a cada passada, os kms eram mais doloridos, mas sabia que estava chegando e pensava:  estou na reta final agora, deixa arder, e seguia com passadas firmes. Cheguei ao último CP já dentro da cidade de Sparta, agora faltavam poucos kms até a chegada, quando me dei conta tinham umas 15 bicicletas ao meu redor, crianças e adolescentes me escoltaram até a reta final, apertei o ritmo e quando dei por mim já estava na avenida principal e de longe era possível enxergar a estátua imponente do Rei Leônidas. Quanto mais eu me aproximava, mais a alegria tomava conta de mim, o choro eu já não conseguia mais conter e foi quando o locutor gritou: “from Brasil, Carlos Gusmão!” Ao tentar subir a escada, um tropeço, quase uma queda, pensei: vou cair logo agora, mas subi as escadas caminhando e pude me jogar aos pés do Rei… com 32:12:37h. Assim, eu me tornava pela primeira vez Finisher na Spartathlon.

Mas minha alegria não ficou por aí, pois meu amigo Fábio consegui um belíssimo 10o. lugar no geral, com uma super marca de 27:58:44h e nossa querida Claudinha se tornava a primeira atleta sul-americana Finisher na Spartathlon, com o tempo de 35:33:41h.

Era uma festa enorme na cidade de Sparta, nunca havia me sentido tão contente em finalizar uma prova, era como se estivesse sonhando, como se aquilo fosse a minha vida. No outro dia, já pensava que no ano próximo ano estaria de volta, aliás queria voltar sempre, enquanto tiver pernas e forças para buscar chegar aos pés de Leônidas.